domingo, 9 de novembro de 2014

Do nascimento do principezinho - Participação Especial

Eu, que estava longe na hora do nascimento, e estava longe um ano depois do nascimento, tomo as palavras de Samuel Levy como a melhor definição deste(s) momento(s).


"É, um ano. Há um ano atrás eu saía de uma reunião chutando a porta, nada mais importava. No Iphone brilhava a mensagem, "A Sandra foi internada.". Experimentei um misto de sentimentos jamais constatados antes. Meu coração batia rápido, numa mistura de adrenalina que me fazia pensar como eu conseguiria me transmover 155km em uma fração de segundos e também me desnortear, sem saber exatamente o que fazer ou pensar. Após alguns segundos que mais pareceram horas, soube que nada grave acontecia ao meu menino ou a minha princesa (que chamei assim quando éramos bem pequeninos). Vitor estava prestes a conhecer o mundo!
Só imaginava como seria esse momento, esse piscar de olhos, essa combustão de oxigênio, esses bracinhos procurando onde segurar, ao mesmo tempo que despertava e via pessoas completamente abobalhadas ao redor. Tive medo, reconheço. Medo de não saber cuidar de você, de não ser o tio ideal, de não conseguir te passar os princípios que sempre cuidei na infância e que o tempo nos arranca. Tive medo de te deixar cair, tive medo de não estar lá quando precisasse se agarrar, tive medo de não achar meus ombros quando precisasse chorar.
Peguei o ônibus com sua madrinha de madrugada e lá fomos viajar os 155km da única maneira possível. Nada mais importava em minha mente, só a incrível pergunta de como cuidar de você.
Fui pego de surpresa na chegada, pois eu não poderia te ver ainda, só a sua madrinha. Enfim a hora chegou e subi, aos poucos, devagar, nervoso.
O ar faltava em meu corpo, eu sentia isso. Não é muita novidade pro seu tio asmático, não se preocupe. Controlei e segurei a barra, fingi que tudo estava bem e dei aquele sorriso forçado enquanto chegava a hora. Fui andando, andando e então cheguei até você.
Dormia, coberto, enrolado, nada importava mais uma vez. Me apaixonei. Amor à primeira vista.
Me deram você em meus braços, completamente contra e a favor das minhas vontade. Contra, pois desaprovava colocar algo tão egrégio em mãos tão desmerecedoras e despreparadas. A favor, pois era o que mais eu queria naquele momento!
Aos meus braços você abriu os olhos e sorriu. Naquele momento todo o meu medo se transformou em sabedoria. Eu soube que seria capaz de cuidar de você, de regar você, de carinhar você.
Hoje chego do trabalho e você me recebe com esse sorrisão gostoso! Eu passo perto e você pede meus braços, seu olhar encontra o meu e vejo apenas amor ao nosso redor.
Eu te amo, meu grande Vitor!
Um dia sei que serei o chato, velho, alguém que só fala besteiras! Mas até lá, espero ter sido um tio que você possa olhar e ter certeza que como na foto acima, minha mão estará eternamente estendida, pronto pra te levantar, seja qual hora for.
Parabéns, meu afilhado. 1 ano que você me enche de felicidade."

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Devaneio de frio

Chamou-me de fria.
Sou fria? Sofria!
Se não fosse fria, sofreria!
Pra não sofrer como sofria, tornei-me fria;
e é por isso, (porque sofria)
que pra vc, sou fria!

São Paulo, 31 de outubro.

De boas no Ibiras, tomando água-de-côco quando um paulista sauvage aparece.
"Olha só o que me aconteceu: uma linda moça apareceu!"
- Quero rir, mas lembro do maníaco do parque.

Outubro...

Dentro da categoria das figuraças de Floripa, bem perto das crianças do Campeche, hoje me deparei com o "moço dos pães". Sempre admiro com cautela as pessoas que pedem carona: sempre acho que, para não ter medo do que o motorista lhes pode fazer, é porque são não só corajosas e um pouco "confiadas", mas também perigosas, essas pessoas.
J´do portão avisto o rapaz, que atravessa quando atravesso a rua e me oferece pão. "Quer pão, moça? Tá quentinho...". (Portava um cesto cheio deles.)
Nego e trocamos poucas palavras sobre a hora do Castanheiras, a hora de agora e a falta de solidariedade das pessoas, que continuam passando e negando carona. "Tenho raiva desses playboyzinhos, olha só, um monte de carro com uma pessoa só...". 20 minutos e não sei quantos carros depois, uma moça o leva e me deixam pensando que acho que, como boa carioca, também não daria carona...
Um pouco de culpa por ter desconfiado dos pães, do moço, das caronas, e por tomar parte* neste mundo que cobra individualismo toma posse de mim...




(*"Tomar quadro", no original. Mas não sei bem de onde tirei tal expressão!)