"É, um ano. Há um ano atrás eu saía de uma reunião chutando a porta, nada mais importava. No Iphone brilhava a mensagem, "A Sandra foi internada.". Experimentei um misto de sentimentos jamais constatados antes. Meu coração batia rápido, numa mistura de adrenalina que me fazia pensar como eu conseguiria me transmover 155km em uma fração de segundos e também me desnortear, sem saber exatamente o que fazer ou pensar. Após alguns segundos que mais pareceram horas, soube que nada grave acontecia ao meu menino ou a minha princesa (que chamei assim quando éramos bem pequeninos). Vitor estava prestes a conhecer o mundo!
Só imaginava como seria esse momento, esse piscar de olhos, essa combustão de oxigênio, esses bracinhos procurando onde segurar, ao mesmo tempo que despertava e via pessoas completamente abobalhadas ao redor. Tive medo, reconheço. Medo de não saber cuidar de você, de não ser o tio ideal, de não conseguir te passar os princípios que sempre cuidei na infância e que o tempo nos arranca. Tive medo de te deixar cair, tive medo de não estar lá quando precisasse se agarrar, tive medo de não achar meus ombros quando precisasse chorar.
Peguei o ônibus com sua madrinha de madrugada e lá fomos viajar os 155km da única maneira possível. Nada mais importava em minha mente, só a incrível pergunta de como cuidar de você.
Fui pego de surpresa na chegada, pois eu não poderia te ver ainda, só a sua madrinha. Enfim a hora chegou e subi, aos poucos, devagar, nervoso.
O ar faltava em meu corpo, eu sentia isso. Não é muita novidade pro seu tio asmático, não se preocupe. Controlei e segurei a barra, fingi que tudo estava bem e dei aquele sorriso forçado enquanto chegava a hora. Fui andando, andando e então cheguei até você.
Dormia, coberto, enrolado, nada importava mais uma vez. Me apaixonei. Amor à primeira vista.
Me deram você em meus braços, completamente contra e a favor das minhas vontade. Contra, pois desaprovava colocar algo tão egrégio em mãos tão desmerecedoras e despreparadas. A favor, pois era o que mais eu queria naquele momento!
Aos meus braços você abriu os olhos e sorriu. Naquele momento todo o meu medo se transformou em sabedoria. Eu soube que seria capaz de cuidar de você, de regar você, de carinhar você.
Hoje chego do trabalho e você me recebe com esse sorrisão gostoso! Eu passo perto e você pede meus braços, seu olhar encontra o meu e vejo apenas amor ao nosso redor.
Eu te amo, meu grande Vitor!
Um dia sei que serei o chato, velho, alguém que só fala besteiras! Mas até lá, espero ter sido um tio que você possa olhar e ter certeza que como na foto acima, minha mão estará eternamente estendida, pronto pra te levantar, seja qual hora for.
Parabéns, meu afilhado. 1 ano que você me enche de felicidade."